Com o cair da noite, as ruas do bairro de Hongdae começavam a encher; pessoas indo para suas casas, indo para seus trabalhos ou saindo para se divertir, todas elas circulavam por ali. Existiam também alguns apressadinhos, que já estavam altos na bebida, e até aqueles que passavam mal, como era o caso do jovem de cabelos roxos, que vomitava numa lata de lixo na calçada. Para os nativos, ele era quase invisível naquela situação, mas para o estrangeiro de cabelos loiros que passava por aquele bairro para chegar até sua casa, era bem diferente.
Sebastian se assustou ao ver aquele jovem vomitando as tripas naquele monte de lixo; era a primeira vez que resolvera voltar a pé do trabalho, e não esperava se deparar com aquela situação. Mesmo cansado e não sabendo falar coreano direito, seu instinto de médico falou mais alto, então se aproximou para ajudar.
Hansol decidiu botar tudo para fora naquela rua mesmo. Não estava a fim de ficar passando mal na festa, e nem tinha trazido muito dinheiro para comprar um remédio descente. O jeito era resolver do modo antigo: vomitando até passar. E estava tudo certo até sentir alguém tocar seu braço.
“Com licença, está tudo bem? Posso ajudar? Sou médico.” o loiro perguntou em inglês, fazendo o jovem coreano franzir o cenho e o encarar como se ele fosse louco. “Desculpe, eu não falo coreano. Você me entende?”
Hansol entendia, mas estava puto. A primeira coisa que estava dando certo em seu dia, foi interrompida por um estrangeiro intrometido a médico, que nem sabia se comunicar direito. Por que aquele cara só não seguiu com a vida dele, como todos a sua volta?
E antes que pudesse xingá-lo, o pouco de álcool em seu sangue fazendo efeito fez uma ideia pipocar em sua mente. E se ele se divertisse um pouquinho?
“Hm?” Hansol forçou sua melhor cara de confuso, querendo rir horrores com a expressão de desespero do estrangeiro.
“Ai meu deus…” Sebastian respirou fundo, tentando se acalmar. “Eu, médico. Quero ajudar. Você bem?” tentando fazer o garoto entender o que ele falava, o loiro começou a fazer mímicas, apontando para si mesmo e tentando imitar um estetoscópio.
“당신은 의사인가요? (Você é médico?)” Hansol disse em coreano e teve que se segurar para não gargalhar ao ver a careta do outro.
Sebastian suspirou, tentando pensar em alguma solução. Lembrou de sua garrafa d’água e logo tirou a mochila das costas para poder pegá-la e entregá-la ao garoto.
“물. (Água.)”
Hansol deu uma risadinha, pegando a garrafa das mãos do estrangeiro.
“병신.(Idiota.)” deu grandes goles, até acabar todo o líquido e sobrar apenas o recipiente vazio, que foi diretamente para o lixo. O loiro sorriu, não fazendo a mínima ideia que estava sendo xingado e zombado por aquele jovem, e lhe ofereceu a mão para ajudá-lo a andar.
“Vai pra casa?”
“Amigos.” o garoto forçou um inglês ruim e se deleitou com a esperança crescendo nos olhos do estrangeiro.
“Posso ir com você? Para te levar em segurança até seus amigos.”
“Ok.”
E no fim, Hansol agradecia o estrangeiro intrometido. Ganhar água de graça e tirar com a cara de um idiota sempre melhoravam seu humor em cem por cento.