Mesmo sendo final de tarde, e a cafeteria ser movimentada normalmente, aquele dia ela estava especialmente cheia. As mesas estavam lotadas, a fila estava grande, pessoas em pé esperando uma cadeira vaga para sentar e muito barulho. Era um pouco estressante, mas ao mesmo tempo era bom para os lucros do mês. E para o garoto sorridente que estava fazendo os cafés também; pela sua cara de tranquilidade e satisfação, aquele caos parecia até o paraíso.
O sininho da porta tocou quando ela foi aberta por um homem loiro de roupas escuras, claramente estrangeiro. Sua cara de poucos amigos deixava explícito a decepção em encontrar a cafeteria tão cheia, mas mesmo assim ele se dirigiu até o final da fila. Seu olhar cabisbaixo, tão perdido em pensamentos, não notou o garoto sorridente lhe encarando de longe.
Mesmo enquanto fazia os vários pedidos de cafés, Jinwoo notou a chegada de Sebastian no local. Já estava muito contente por ter decidido fazer hora extra na cafeteria e não ter deixado a outra funcionária sozinha com aquela lotação surpresa, mas com a chegada do loiro Jinwoo não sabia nem explicar o tamanho da felicidade que o cobriu por inteiro. Só de ver aquela figura tímida, fofa e bonita, sua disposição melhorou 300%, e os cafés começaram a ficar prontos mais rápido.
Sebastian estava quase arrependido de ter escolhido passar na cafeteria, não imaginava que lá estaria tão cheio ao ponto de ter aquela fila imensa que ia até a porta. Mas ele já estava ali, e não tinha tanta certeza se possuía todos os itens necessários para passar café em casa, então tomou o seu lugar no fim da fila. Mesmo que estivesse demorando e fosse uma fila afinal de contas, o local era bem decorado e fazia com que ele se sentisse ‘em casa’; essa normalmente não era uma sensação muito boa, mas aquele lugar era diferente, aconchegante. Sua sensação de quase arrependimento passou, principalmente quando andou um pouco para frente e seu olhar parou no barista.
O coração de Sebastian falhou uma batida ao perceber Jinwoo o encarando de volta, com um sorriso fofo de empolgação. Ele devolveu com um sorrisinho tímido e logo abaixou o olhar; nunca conseguiria sustentá-lo assim, repentinamente, sem ficar todo vermelho. Jinwoo era muito animado, muito energético, muito fofo, muito bonito e muito… muito.
Mesmo concentrado em seu trabalho, Jinwoo não deixava de dar umas espiadinhas no loiro, que chegava cada vez mais perto de ser atendido. Ficou muito feliz quando ele finalmente percebeu sua presença ali, e achou extremamente fofo quando Sebastian voltou a olhar pro chão com aquela pose cabisbaixa, que em sua opinião, era um charme. Só então Jinwoo pensou ‘Será que eu estou feio?’.
O barista aproximou-se da máquina de café expresso para ver o seu reflexo, checando seu cabelo quase inexistente, e todos os lados possíveis de seu rosto sem nenhuma imperfeição. Ele recebeu olhares confusos de Jieun, a outra funcionária, e sua amiga, que estava no caixa esperando os clientes decidirem seus pedidos.
“O que você tá fazendo?” ela sussurrou discretamente.
“Vendo se eu tô muito feio.”
“Mas por que…” Jieun franziu o cenho, olhando ao redor. Não demorou muito para encontrar aquela figura conhecida na fila do café. Ela sorriu, entretida. “Oh, entendi! Aquele é seu namoradinho, não é Jinwoo?”
Jinwoo não conseguiu segurar as risadinhas pela voz fofa da provocação da amiga. Ele deu de ombros, fingindo que não sabia do que ela estava falando e voltou para o seu canto de trabalho, esperando a vez do loiro chegar.
Sebastian, mesmo de cabeça baixa, notou a movimentação atrás do balcão. Não conseguia entender o que Jinwoo e a colega de trabalho estavam falando, mas eles pareciam próximos. Seu coração falhou mais uma batida quando os dois riram; eles eram bonitos juntos. Jinwoo e a menina.
‘Ele... ele não está interessado... Não, ele é só muito simpático. O que eu estava pensando? Eu, um homem. Ha.’ pensou, amargurado ‘Eu sou muito estúpido.’
Mas por mais que aqueles pensamentos negativos rondassem sua cabeça, Sebastian não conseguia desviar a atenção do barista. Mesmo não olhando diretamente para ele, Jinwoo era como o mais colorido dos girassóis no campo seco da visão de Sebastian. Ele irradiava positividade, amor, felicidade… e parecia tão distante. Mesmo que eles estivessem cada vez mais perto. E mais perto. Tipo, muito perto.
“Olá, com licença!” uma voz feminina tirou o loiro de seu transe de pensamentos. A atendente lhe olhava com curiosidade e diversão. “Você quer fazer o seu pedido?”
Demorou mais alguns segundos para Sebastian perceber o quão longe sua mente fora, ao ponto da cafeteria ter esvaziado consideravelmente e ter chegado a sua vez de pedir o café. Ele olhou rapidamente para Jinwoo, que estava rindo baixinho enquanto preparava uma bebida, e logo se aproximou do balcão para pedir seu precioso café preto.
“Um café preto passado, por favor. Sem açúcar.” Sebastian pediu em um coreano perfeito, como se estivesse repetindo um mantra do dia a dia. Pedia tanto aquele café que aquela foi a primeira frase que aprendeu para sobreviver em Seul. Graças a Jinwoo.
Depois de pagar, o loiro se dirigiu para uma mesa mais afastada perto das janelas, mas que ainda sim tivesse como ver e ouvir o barista. Não que ele quisesse continuar olhando para Jinwoo e sua linda e iluminada presença, mas precisava saber quando seu pedido estaria pronto. Na verdade, Sebastian queria parar de olhar para aquele garoto, parar de pensar nele e em toda aquela situação. Estava cogitando pegar o café e fugir. É, talvez fosse uma boa ideia. Fugir.
“Café preto, sem açúcar.” uma voz doce soou perto de seus ouvidos, enquanto um copo médio era colocado em sua frente sob a mesa. Jinwoo sentou-se na cadeira vaga, de frente para o loiro, acabando com o seu plano fugitivo. “Oi Sebastian.”
“Oi Jinwoo… obrigado por trazer o café até aqui.”
“Estou ao seu dispor sempre que precisar.” ele deu uma piscadela, acompanhada de um sorriso divertido. Sebastian desviou o olhar. “Faz um tempo que você não aparece por aqui… Muito ocupado com o trabalho?”
“Ah, na realidade nem tanto. Normalmente o trabalho na clínica é bem tranquilo. O que toma a maior parte do meu tempo são os estudos.”
“E você está indo bem, imagino. Aprender uma língua não deve ser nada para alguém que estudou por tantos anos para ser médico.” disse Jinwoo sorrindo, enquanto observava o loiro tomar alguns goles do café para disfarçar a vermelhidão em sua face.
“Acho que estou me entendendo com a gramática. Mas a conversação é um pouco difícil, devo admitir.”
“Bom, você sempre pode me chamar! Fico feliz em ajudar… Quer dizer, eu espero que eu esteja ajudando de alguma forma.”
Sebastian sorriu pequeno, sem mostrar os dentes, e acenou com a cabeça.
“Você ajuda. Obrigado.”
Ambos ficaram em silêncio, trocando olhares por alguns segundos até ficarem envergonhados o suficiente. O loiro desviou sua atenção mais uma vez para o café, e Jinwoo olhou fixamente pelo vidro da janela, tentando não parecer um menininho apaixonado - exatamente o que ele era - na frente do outro. Tinha certeza que havia falhado miseravelmente.
“Jinwoo, eu não quero te mandar embora de jeito algum, mas... você não vai se meter em problemas se ficar sentado aqui comigo?”
“Oh, não! Meu turno já acabou.”
“Ah...”
“Na verdade, uma ideia surgiu der repente aqui na minha mente…” o moreno engoliu em seco, nervoso. “Você parece cansado, mas eu estou indo em uma reunião de amigos e vou encontrar com meu primo lá. Eu acho que ia ser uma oportunidade muito boa para você treinar sua conversação, e me fazer companhia… Você quer ir?” o garoto perguntou, com o olhar brilhando. Sebastian arqueou as sobrancelhas, um pouco surpreso, e parecia sem palavras. “Eu super entendo se você não aceitar, deve estar exausto! Acho que eu nem deveria te incomodar com uma coisa dessas.”
“Não fale assim, Jinwoo, você não me incomoda.” ele resmungou, olhando para baixo e brincando com os próprios dedos. “E eu não estou tão cansado assim…”