O barulho irritante do toque do celular despertou o garoto de seu sono profundo e fora de hora. Assim que retomou a consciência, junto dela veio uma forte dor de cabeça; ele apertou os olhos, numa tentativa frustrada de fazer a dor passar.
“Porcaria de celular...”
Provavelmente não era a primeira vez que o aparelho estava tocando, mas seu corpo estava muito ocupado se recuperando da madrugada passada para sequer ouvi-lo. Quem é que fosse o infeliz que estivesse lhe ligando, havia vencido pela insistência. O garoto, ainda um pouco tonto e resmungando, se esticou para alcançar o celular na mesa de cabeceira e enfim atender a ligação.
“Que foi, merda?”
“Finalmente atendeu essa droga, Hansol!” a voz estridente de sua amiga preencheu seus ouvidos, fazendo Hansol afastar um pouco o aparelho de perto. “Eu estava prestes a ir na sua casa botar sua porta abaixo no soco.”
“O que você quer, Deedee? Eu tava dormindo.”
Ela riu.
“Claro que você tava dormindo. Depois de ontem... Só queria checar se você estava vivo. E, óbvio, te lembrar da nossa festinha daqui a meia hora. Ou o super festeiro Kim Hansol vai arregar por causa de uma ‘ressaquinha’?”
Na verdade, Hansol nem lembrava de muita coisa da madrugada passada. A única certeza que ele tinha era de que havia exagerado consideravelmente na bebedeira, e estava com uma ressaca daquelas. Mas a vida era só uma; não era uma dor de cabeça e nem uma tontura que iam impedi-lo de aproveitar mais uma noite com os amigos. Tinha certeza que daria conta do recado.
“Ha, vai sonhando. Te vejo em meia hora.” e sem esperar uma resposta, Hansol desligou.
Por mais decidido a sair que estivesse, Hansol precisava melhorar um pouco seu mal-estar e acordar seu corpo ainda sonolento, então partiu para um banho rápido. A água gelada lhe deu um choque de realidade e ajudou a ligar sua mente, que ainda estava em sua cama. Ainda sim, demorou para escolher uma roupa e terminar de se arrumar; era um cara vaidoso afinal, não saía por aí com qualquer coisa.
No caminho da cozinha, o garoto pegou uma cartela de analgésicos que seu primo havia comprado há um tempo atrás, e tomou um comprimido direto da garrafa d’água da geladeira; aproveitou para checar se havia alguma bebida alcoólica ali, mas estava praticamente vazia.
“Temos que fazer compras, que saco.”
Sem medir muito sua força, Hansol fechou a porta da geladeira, e se dirigiu para os armários, como sua última opção. Ele sabia que provavelmente estavam vazios também, mas a esperança de um bêbado é a última que morre.
“Inferno.” praguejou ao não encontrar o álcool que precisava e constatar que teria que passar em uma porcaria de lojinha de conveniência. Já estava quase atrasado e a sua dor de cabeça parecia aumentar por causa de sua irritação. A vida era uma merda mesmo.
Hansol foi resmungando os mais diversos xingamentos até a lojinha mais próxima de sua casa. A menina do caixa, que sempre dava em cima dele, tentou lhe cumprimentar, mas o garoto nem escutou. Se arrastou até o corredor das bebidas geladas e encarou com sua carranca característica todas aquelas embalagens coloridas por alguns minutos, antes de pegar algumas garrafas e levá-las até o caixa.
Não demorou para que Hansol estivesse andando pelas ruas de Seul, começando a beber sua segunda garrafa. O álcool ajudou com seus nervos, e agora ele estava só um pouquinho irritado com a vida, o que era seu normal. Bagunçou seus próprios cabelos tingidos de roxo, ignorando uma chamada de Deedee, que provavelmente já estava na festa. Ainda não estava louco o suficiente para aguentar as provocações da amiga, e a dor da ressaca não ajudava em seu humor.
Geralmente, emendar uma bebedeira na outra era bastante funcional para Hansol, no entanto daquela vez parecia ser diferente. Quando estava no final da sua segunda garrafa de bebida, seu estômago começou a revirar e um enjoo muito forte o atingiu, fazendo o garoto parar de andar.
“Que merda é essa? Porra eu to morrendo.”
Ele cambaleou até uma parede e se encolheu ali. Por sorte, já estava na área da vida noturna de Seul, onde já conseguia ver muitas pessoas alcoolizadas e era normal ver algumas delas passando mal, então Hansol não chamou muita atenção. Não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
‘Será que eu mando mensagem para o meu primo? Ele deve estar indo pra festa.’ Hansol se perguntou em seus próprios pensamentos. ‘Ou eu posso só vomitar…?’
Pedir ajuda para o primo.
Vomitar na rua.