“Muito obrigado por escolher nossa clínica, tenha uma ótima semana!”
Após visualizar o último paciente do dia saindo pela porta da frente, Sebastian suspirou profundamente, deixando seu corpo relaxar na cadeira. Estava exausto. Não era normal tantas pessoas marcarem horários e virem até o consultório no mesmo dia, ainda mais numa clínica particular tão nova como aquela que trabalhava. Podia dizer que estava rouco de tanto falar e quase formavam calos em seus dedos por atender o telefone tantas vezes, mas também estava feliz pela conquista da senhora Jeon. Ele mesmo não tinha noção do que era necessário para começar algo assim do zero, sua vida toda foi cheia de privilégios; mas agora ele sabia o quão cansativo era manter seu próprio negócio.
“Dia duro hoje.” a doutora o surpreendeu, saindo do consultório já de roupas trocadas. A expressão dela era cansada, apesar de tudo ela aparentava estar feliz.
Sebastian arrumou a postura e sorriu de volta.
“Sim, mas valeu a pena. A senhora tem muitos pacientes novos.”
“Eu já pedi que me chame de Eunae! Esse seu ‘senhora’ faz eu me sentir velha.” ela resmungou, se aproximando da bancada para apoiar os braços e olhar diretamente nos olhos cor de âmbar do jovem. “Logo você terá a sua licença e os seus próprios pacientes também. Estou ansiosa para te ver trabalhando.”
“Ah, eu tenho que estudar muito ainda…” Sebastian desviou o olhar, arrumando suas coisas para disfarçar o possível rubor em seu rosto. “Essa prova não é muito fácil.”
“Você é muito inteligente garoto, não é qualquer um que entra em Cambridge aos 15 anos. Aprender coreano vai ser fichinha pra você.” ela deu uma risadinha, provavelmente notando o seu acanhamento “Aliás, como estão os estudos? Não está exagerando, certo?”
Sebastian acenou com a cabeça, sorrindo envergonhado. A doutora, satisfeita com aquela resposta minimalista de seu secretário, se despediu com uma reverência e foi embora pela mesma porta que o seu último paciente, o desejando um ‘Até logo!’.
Sozinho, Sebastian se permitiu relaxar e desmanchar seu sorriso. Não era fácil atender a todos, ainda mais com simpatia e alegria. Ele era um cara introvertido, e isso pedia muito de sua energia, ainda mais trabalhando como secretário. A doutora Eunae o elogiava muito, mas ele sabia que não era tão bom naquela área e que no fundo ela só queria animá-lo para que não desistisse da prova da licença médica.
Mas Sebastian não iria desistir. Não era como se ele tivesse outra escolha.
Ir para um país desconhecido, fugindo para bem longe de sua terra natal que guardava tantas memórias ruins, agarrando a primeira proposta de emprego que apareceu. Estudar e tirar a licença era o destino de Sebastian depois de fazer essas escolhas tão drásticas e impensadas. Tinha que seguir com a sua vida de alguma maneira, e a melhor escolha para ele com certeza era se atolar em trabalho e mais trabalho.
Depois de se certificar que o computador estava desligado e tudo estava no lugar, Sebastian levantou-se da cadeira e começou um caminhar lento até a porta. Sua cabeça estava pesada de tanto pensar e seu rosto retorcido em uma careta, representando bem seus sentimentos do momento. Sabia o que aquela situação pedia: um café preto bem quente. Só não tinha certeza se seu corpo aguentava mais alguma interação social para arriscar uma passada naquela cafeteria ali perto. Nem mesmo sabia se conseguiria ele mesmo preparar café na sua nova casa.
E suspirando mais uma vez, Sebastian pegou seus pertences e se dirigiu para fora, fechando a clínica e deixando a decisão do café para quando já estivesse andando pelas ruas movimentadas de Seul.
Passar numa cafeteria.
Ir direto para casa.